Economia

Paraná triplica produção de laranja, com foco na exportação de suco

Quarta-feira, 25 de novembro de 2015


Ouvir matéria

Até o fim de dezembro, cerca de 1 milhão de toneladas de laranjas devem ser colhidas nos pomares do Paraná, concentrados no Noroeste do Estado, principalmente, e também na região Norte. Na última década, tecnologia e investimentos fizeram a produção quase triplicar, passando de 335 mil toneladas, em 2004, para 958 mil toneladas no ano passado. 

A laranja produzida é transformada em suco, com foco na exportação para países da União Europeia e do Oriente Médio, para os Estados Unidos, Austrália e Canadá.

A atividade emprega mais de 3 mil pessoas no campo. Na índústria são 600 empregos diretos e indiretos. “Hoje a citricultura está consolidada no Paraná e é a principal atividade da fruticultura do Estado”, diz Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento. 

Os pomares são explorados por mais de 600 citricultores, abrangendo cerca de 100 municípios e possuem áreas médias entre 19 e 35 hectares. Somente no campo, a atividade gera 3 mil empregos diretos no Paraná. No ano passado, o Valor Bruto da Produção (VBP) foi de R$ 260 milhões. A laranja é a principal atividade na fruticultura no Paraná e Estado é campeão de produtividade nesta cultura. 

Quarto produtor nacional de laranjas (5,7% do Brasil), o Paraná possui três indústrias de suco – Louis Dreyfus, que assumiu as operações na área das cooperativas Cocamar e Corol; a Citri Agroindustrial S/A, uma empresa privada de citricultores, e a Cooperativa Integrada. 

Em 2014, a produção de laranjas do Paraná rendeu 18 milhões de caixas de 40,8kg, transformados em 50 mil toneladas de suco. 

PERSPECTIVAS - A expectativa para exportação de suco são boas, porque os preços vêm reagindo, principalmente pela queda na produção na Flórida, nos Estados Unidos, segundo maior produtor mundial de laranja, afetada pelo greening, doença que impede o desenvolvimento da fruta. Além disso, o dólar mais alto favorece as exportações brasileiras

Nos últimos anos, as vendas externas de suco do Brasil - maior produtor mundial - foram afetadas pela queda no consumo global da bebida e pela crise na Europa. Mas a redução da produção global já surte efeito sobre as cotações. 

Os preços já estão melhores do que no ano passado, de acordo com Paulo Rizzo, gerente da unidade de sucos da Integrada, em Uraí, no Norte Pioneiro. O preço pago pela cooperativa ao produtor por caixa está em R$ 12,00 o que significa um aumento de 20% em relação ao ano passado. Mas em São Paulo, os preços já batem a R$ 14,00.

A Integrada, que iniciou sua produção de sucos em julho de 2013, tem hoje 80 citricultores ativos, que cultivam 1,3 mil hectares. A expectativa é ampliar essa área para até 3 mil hectares. Com capacidade para produzir 2 milhões de caixas de suco, a Integrada prevê elevar a produção de 1,3 milhão de caixas para 1,7 milhão de caixas em 2016 na sua fábrica. 

Hoje a cooperativa ainda tem que comprar parte das laranjas usadas para produção de sucos em São Paulo, mas, por conta dos custos de transporte, a ideia é desenvolver mais a atividade no Paraná. 

O produtor João Arabori, de 68 anos, foi um os primeiros a aderir ao plano da Integrada e entrar nessa atividade. Desde 2008 planta laranja pera em Assaí, na região de Londrina. O rendimento dessa safra, de duas caixas por pé, ainda é considerado baixo pelo produtor. “Queremos ampliar para pelo menos três caixas, com mais tecnologia, investimento em nutrição e manejo adequado”, diz. A aposta na laranja foi feita para diversificar a produção, concentrada em soja, milho e trigo. 

BOX 1

Iapar foi decisivo e Paraná tem a maior produtividade do País

Nas regiões Norte e Noroeste do estado, o cultivo de citros esteve fora do alcance dos agricultores paranaenses por mais de 30 anos, em função da interdição das áreas para plantio devido à ocorrência do “cancro cítrico”. 

Somente no final da década de 80 é que a citricultura se tornou uma opção econômica para o estado, sustentada pelos resultados de pesquisa do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), com pesquisa fundamentada em bases sanitárias e tecnológicas. 

Os plantios de laranja, aliados aos projetos industriais, mudaram a paisagem do noroeste. As cultivares de laranjas pera, valência, folha murcha e iapar-73 são a base da citricultura industrial no estado.

De acordo com Rui Pereira Leite, pesquisador do Iapar, são 30 variedades de citros – entre laranja, limão, tangerina. O Iapar detém hoje o terceiro maior banco de germoplasma do País, com mais de 600 variedades. 

Graças a esse investimento, o Paraná é campeão de produtividade no plantio de laranjas no País. Enquanto no Brasil colhe-se em média 553 caixas de 40,8kg/ha, a produtividade em São Paulo fica em 625 caixas/ha, no Noroeste do Paraná este número é de 923 caixas/ha, no entanto alguns pomares chegam a colher 2.000 caixas/ha. 

BOX 2

Estado combate o greening, principal ameaça à atividade no mundo

O greening é hoje a principal ameaça à citricultura global e estudos vêm sendo desenvolvidos pelo Iapar em parceria com a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) para tentar combater a doença. No Paraná, estima-se que o greening esteja presente em menos de 10% dos pomares, mas é preciso acelerar o combate à doença, de acordo com Rui Pereira Leite, pesquisador do Iapar. 

O Paraná trabalha basicamente em três frentes para resolver o problema: intensifica a aplicação de inseticidas para combate ao psilídeo do citro - vetor da bactéria do greening; erradica em áreas urbanas a murta, árvore ornamental também conhecida como “dama da noite” e que funciona como hospedeira do vetor, e, por último, desenvolve variedades resistentes à doença. A ideia é fazer pesquisas em campo de variedades transgênicas que já foram desenvolvidas pelo Iapar. 

O enfrentamento das questões sanitárias – cancro cítrico, pinta preta, clorose variegada (amarelinho) e o greening – são altamente eficazes, de acordo com Leite. “A atenção de autoridades públicas e privadas deve ser para a manutenção, fortalecimento e continuidade deste segmento nos negócios agrícolas das regiões Norte e Noroeste, consolidando a importância do estado do Paraná na citricultura brasileira e mundial”, diz. 

Fonte: AEN - Agência Estadual de Notícias

 Veja Também